Belém Pós COP30: O Legado das Obras e Novo Cenário Econômico
A poeira da COP30 mal assentou, e Belém já se depara com uma nova realidade. Quem caminha pela cidade neste final de 2025 percebe que o evento climático funcionou como um grande catalisador. Muitos olharam para novembro como uma linha de chegada, mas, para a população, fica claro que a conferência foi um ponto de partida.
Agora, sem os holofotes da
imprensa, é o momento de fazer o balanço frio do que ficou de concreto para o
morador e para a economia local.
Enquanto as delegações
internacionais retornam aos seus países, o que resta não é apenas a memória
diplomática, mas também infraestrutura e um novo calendário de vivência urbana.
O Pará encerra o ano em transição, saindo de um modelo de promessas para uma
fase de uso real dos equipamentos públicos.
Do pacote total de 37 grandes
intervenções anunciadas para preparar a capital, o saldo final indica a entrega
de 28 obras até a abertura do evento. É um número expressivo de execução,
embora deixe claro que algumas frentes complexas, especialmente as de
macrodrenagem profunda em bacias periféricas, ainda exigirão continuidade em
2026.
O Impacto Urbano: Funcionalidade
além da Estética
Entre as entregas mais visíveis,
a requalificação do Mercado de São Brás e a obra da Nova Doca de Souza Franco
se destacam não apenas pelo aspecto visual, mas pela mudança de uso do espaço.
O Mercado, antes subutilizado, foi devolvido à cidade como um polo de serviços
e gastronomia, buscando equilibrar a preservação histórica com a viabilidade
econômica de seus permissionários.
Já na Doca, o Parque Linear
entregue cumpre uma função dupla: oferece uma área de lazer e, tecnicamente,
integra um sistema de drenagem essencial para mitigar os alagamentos históricos
daquela região. A eficácia dessa engenharia será testada agora, no inverno
amazônico que se aproxima.
O Parque da Cidade, antigo
Aeroporto Brigadeiro Protásio, também entrou na rotina do belenense. A
preocupação inicial de que o local se tornasse um “elefante branco” após a
saída da ONU vem sendo combatida com uma agenda de uso frequente. Eventos
sazonais, como a Vila Encantada, que ocorre agora em dezembro, mostram que a
população demandava áreas abertas de lazer, e a ocupação do espaço é a melhor
garantia contra sua degradação.
No Complexo Porto Futuro II, a criação
do Parque de Bioeconomia e Inovação da Amazônia busca resolver um gargalo
técnico histórico: a escalabilidade. O espaço irá operar como um “laboratório-fábrica”,
oferecendo tecnologia para que produtores locais padronizem seus produtos. A
meta é econômica e pragmática: transformar a bioeconomia, muitas vezes restrita
ao discurso, em uma linha de produção competitiva com valor agregado.
A Economia de Serviços e o
Turismo
Mas o legado da COP30 não deve
ser medido apenas em metros quadrados de concreto. Um impacto possivelmente
duradouro foi a profissionalização forçada do setor de serviços. A necessidade
de receber delegações globais submeteu a rede hoteleira, os restaurantes e o
setor de transportes a um “teste de estresse” sem precedentes.
Houve uma injeção direta de
capital na economia durante o evento, mas o ganho estrutural ficou na
infraestrutura portuária. O canal de acesso ao porto permite a
atracação de navios de grande calado, inserindo Belém, de maneira técnica e
viável, na rota internacional de cruzeiros. Se bem aproveitado, esse canal
garante um fluxo de receita turística recorrente, independentemente de grandes
eventos governamentais. A cidade provou que tem capacidade operacional, o
desafio agora é manter a regularidade.
Um Novo Vetor Industrial
Enquanto o setor de serviços
absorve o impacto do evento, a indústria prepara uma virada de chave. A
aprovação da ZPE de Barcarena consolida a transição do estado para a exportação
de produtos com maior valor agregado. É um tema denso, que envolve incentivos
fiscais e logística pesada e, por sua relevância, será analisado de forma
dedicada em outra postagem.
Os Desafios da Manutenção
O saldo final é o de uma Belém
mais equipada, mas também mais cara de se manter. A euforia das inaugurações dá
lugar agora à planilha de custos de manutenção. Manter o padrão do Mercado de
São Brás, da Nova Doca, Porto Futuro II e do Parque da Cidade exigirá gestão
eficiente e recursos constantes, para que não sofram a depreciação precoce
comum às obras públicas no Brasil.
O evento passou. Resta agora o
trabalho diário de fazer esses ativos funcionarem a favor de quem vive na
cidade.
Imagem: https://www.teixeiraduarteconstrucao.com.br/porto-futuro-2-legado-do-projeto-cop30/
Texto: Lucas Gorayeb

Excelente publicação referente os feitos e obras realizadas em Belém.
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